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Villancico XXI – À ascenção do Senhor

by Soror Violante do Céu

Region: Lisboa, Portugal

Edited by Anna-Lisa Halling

Transcribed by Anna-Lisa Halling

Villancico

Ecos destas soledades,

ajudai-me a suspirar,

que tal vez se busca alívio

na repetição de um ai.

ECO     Ai!

 

Ai, que meu querido amante,

sendo em tudo singular,

deixando-me entre suspiros,

por entre nuvens se vai.

ECO   Ai!

 

Ai, que parte para a glória

ai, que em pão fica já:

vós, ó luz de meus sentidos,

minhas queixas escutai.

ECO  Ai!

 

Meu divino amante,

príncipe de paz,

se me quereis tanto,

por que me deixais?

 

Se do Céu viestes

só por me buscar,

por que tão depressa

para o céu tornais?

 

Se sois raro em tudo,

se sois singular,

como nos amores

também vos mudais?

 

Vós fizestes tanto

por me confiar,

como todo o mundo

Sempre contará.

 

Por mim certa noite

vos toparam já

no lugar indigno

de um pobre portal.

 

Por mim fostes sempre

tão fino em amar,

que injúrias sofrestes,

que é, Senhor, o mais.

 

Por mim finalmente,

sem eu ser capaz,

chegastes à morte

só por me obrigar.

 

Pois se tais finezas

ostentastes já,

como agora, ai triste,

rigor ostentais!

 

Desisti da ausência,

meus olhos, ficai

não me dé tal morte

quem vida me dá.

 

Porém se é forçoso,

meu bem, que partais,

parti nos meus olhos,

partireis por mar.

 

Mas ai, meu bem, mas ai,

que o venturoso céu vos leva já?

Parai, parai, parai,

não vedes tão ligeiro

ó rei da paz,

que o coração convosco me levais.

Diplomatic Transcription


A’ Ascenção do S.

VILLANCICO XXI.

Eccos destas soledades,

Ajudayme a suspirar,

Que tal vez se busca alivio

Na repetiçaõ de hum ay.

Ecco.     Ay!

 

Ay, que meu querido amante,

Sendo em tudo singular,

Deyxandome entre suspiros,

Por entre nuvens se vay.

Ecco.     Ay!

 

Ay, que parte para a gloria

Ay, que em paõ fica já:

Vós, ó luz de meus sentidos,

Minhas queyxas escutay.

Ecco.     Ay!

 

Meu divino amante,

Principe de paz,

Se me quereis tanto,

Porque me deyxais?

 

Se do Ceo viestes

Só por me buscar,

Porque taõ despressa

Para o ceo tornais?

 

Se sois raro em tudo,

Se sois singular,

Como nos amores

Tambem vos mudais?

 

Vós fizestes tanto

Por me confiar,

Como todo o mundo

Sempre contará.

 

Por mim certa noyte

Vos topáraõ já

No lugar indigno

De hum pobre portal.

 

Por mim fostes sempre

Taõ fino em amar,

Que injurias sofrestes,

Que he, Senhor, o mais.

 

Por mim finalmente,

Sem eu ser capaz,

Chegastes á morte

Só por me obrigar.

 

Pois se taes finezas

Ostentastes já,

Como agora, ay triste,

Rigor ostentais!

 

Desistí da ausencia,

Meus olhos, ficay

Naõ me dé tal morte

Quem vida me dá.

 

Porém se he forçoso,

Meu bem, que partais,

Parti nos meus olhos,

Partireis por mar.

 

Mas ay, meu bem, mas ay,

Que o venturoso Ceo vos leva já?

Paray, paray, paray,

Naõ vedes taõ ligeyro

O’ Rey da paz,

Que o coraçaõ comvosco me levais.

Works by Soror Violante do Céu

Posted

10 November 2021

Last Updated

14 June 2022